500 Raspberry Pi a aquecer casas: Thermify HeatHub pode substituir caldeiras (piloto UKPN)


Imagina o aquecimento central lá de casa a ser alimentado por computação. No Reino Unido, a Thermify, em parceria com a UK Power Networks (UKPN), está a testar o HeatHub — uma unidade do tamanho aproximado de uma bomba de calor que substitui a caldeira e usa o calor gerado por cerca de 500 Raspberry Pi Compute Modules (CM4/CM5) para aquecer a habitação e a água quente.

O truque é simples e engenhoso: os módulos ficam imersos em óleo para arrefecimento eficiente; o calor é captado e transferido para o circuito de aquecimento. A UKPN garante ainda uma ligação de rede dedicada para que o processamento não consuma a largura de banda do utilizador.

Computação + calor útil: a proposta do HeatHub é aproveitar o desperdício térmico.

Porquê isto agora?

O piloto integra o programa SHIELD (Smart Heat and Intelligent Energy in Low-income Districts) e procura reduzir as faturas energéticas de famílias vulneráveis, com estimativas de 20% a 40% de poupança e um objetivo ambicioso de escala até 2030.

Como funciona, em termos simples

  • Mini datacenter doméstico: um cluster de ~500 Raspberry Pi processa workloads em contentores (nuvem distribuída da Thermify).
  • Arrefecimento por imersão em óleo: maximiza a transferência térmica e reduz ruído/poeira.
  • Calor reaproveitado: em vez de dissipar para o ar, o calor é injetado no circuito de aquecimento e no termoacumulador.
  • Rede dedicada: evita “comer” a internet do utilizador.

Vantagens a ter em conta

  • Eficiência energética real: converte desperdício térmico em conforto doméstico.
  • Custos previsíveis: potencial para tarifas sociais de aquecimento.
  • Menor pegada de datacenter: computação descentralizada com calor útil local.

Desafios (vamos ser realistas)

  1. Manutenção e fiabilidade: o sistema tem de ser silencioso, seguro e fácil de manter.
  2. Segurança informática: cargas remotas exigem isolamento e monitorização de rede.
  3. Regulação e seguros: enquadramento legal para “calor por computação”.
  4. Investimento inicial: retorno depende do clima, isolamento e uso.

Portugal: dá para substituir caldeiras?

Tecnicamente, sim — sobretudo em habitações com aquecimento central e bons níveis de isolamento. Em condomínios ou ecovilas, a adoção coletiva pode tornar o modelo mais viável, ainda mais se combinado com solar fotovoltaico para alimentar a computação.

💻 Secção técnica (para leitores IT)

  • Compute: ~500 CM4/CM5 por unidade; workloads em contentores (edge cloud da Thermify).
  • Thermal design: imersão em óleo; permutador de calor para circuito de água; controlo de fluxo/temperatura.
  • Rede: uplink dedicado (separado da LAN do utilizador); gestão remota; QoS no operador.
  • Resiliência: nós heterogéneos, orquestração com failover; manutenção “hot-swap” por módulos.
  • Segurança: hardening, segmentação, atualização OTA, telemetria cifrada, zero trust.
  • Medição: telemetria térmica/eléctrica; COP equivalente (computação-para-calor); dashboard de consumo/poupança.

Conclusão

Computadores como caldeiras deixou de ser piada de nerd. Se o piloto escalar, veremos mais casas a aquecê-lo-nos com bytes — menos desperdício, mais eficiência.

Fonte: The Register – “Struggling to heat your home? How about 500 Raspberry Pi units?” (03/10/2025